Entrevista de Mário Correia, membro da ADEP, à revista TV Guia, publicada em 12 de Dezembro de 2011. Só foi publicado um excerto, por condicionante de espaço.
1-É muito comum existirem pessoas com vontade/necessidade de contactar familiares que já tenham falecido, através de médiuns?
Não é dos motivos que mais trazem pessoas a conhecer a filosofia espírita. No Espiritismo não se contacta o mundo espiritual a não ser para satisfazer as seguintes finalidades: ajuda a sofredores (vulgo reunião de desobssessão); recepção de comunicações edificantes, que são posteriormente publicadas; e pesquisa científica. No entanto, se ocorrem comunicações espontâneas, os “recados” dos que partiram são entregues aos seus entes queridos, que confirmarão, ou não, a sua pertinência.
Jamais, contudo, se prometem comunicações – nem tal seria honesto, ainda que todos os serviços espíritas sejam gratuitos. No entanto, pode-se eventualmente solicitar aos amigos espirituais alguma informação acerca desta ou daquela pessoa e se for oportuno eles trá-la-ão. Mas o Espiritismo não é essa prática, é algo muito mais profundo.
2-Pode dar-se o caso de sentirmos que existe alguém, que já faleceu, e agora quer falar connosco? De que forma é que essa situação se pode manifestar?
Sim. Mesmo pessoas que jamais ouviram falar de filosofia espiritualista, que nem têm opinião formada sobre a imortalidade da alma e a comunicabilidade dos Espíritos, podem sentir que alguém “do lado de lá” lhes quer falar. Pode ser uma ideia que se repete, sonhos recorrentes com a pessoa que partiu, ou mesmo a sensação da presença do Espírito em questão.
3-E esse contacto é possível? De que forma?
Quando pensamos com carinho num familiar ou amigo que partiu, já estamos a estabelecer uma salutar comunicação telepática com esse Espírito. Os Espíritos são pessoas como nós, que apenas deixaram o corpo material. Estão tão vivos como nós, partilham as nossas alegrias e tristezas, e ficam felizes com a nossa estima. O que não devemos é exigir deles que se comuniquem, pois tal nem sempre lhes é permitido ou possível. Por outro lado, dentro de algumas condicionantes, pode ser possível, através de um médium experimentado e honesto, esse contacto.
De realçar que os espíritas nunca cobram ou aceitam dinheiro pelas suas actividades. Infelizmente existem muitos charlatães que aproveitam-se da dor alheia para usurpar o seu dinheiro. Onde houver comércio ou aceitação de dinheiro, é de fugir daí.
4-Quais são as condições ou os pré-requisitos necessários para se contactar com um ente querido que já partiu?
Costuma dizer-se que “o telefone só toca do lado de lá”. Se um Espírito quer e tem autorização de Deus para se comunicar, terá que haver um médium compatível capaz de lhe servir de porta-voz – pela escrita, pela fala, ou por outro meio. Não é habitual, nem é necessário, evocar-se este ou aquele Espírito.
Às vezes, o próprio Espírito encarrega-se de contactar directamente o seu ente querido, desde que encontre condições mediúnicas para tal, e sempre e só com a permissão de Deus – como de resto acontece com tudo no Universo. Nesse sentido, sugerimos às pessoas que se dirijam a um Centro Espírita idóneo (que não cobre nem aceite dinheiro em troca dos seus serviços) e peça ajuda, orientação. Poderão encontrar endereços de Centros Espíritas no site da ADEP em http://www.adeportugal.org/
5-Que situações é que podem impedir ou dificultar esse contacto? Uma pessoa que eventualmente esteja a ser alvo de uma pressão mediática forte pode ver essa situação dificultar-se?
Os Espíritos, sendo pessoas como nós, dotadas de querer e livre-arbítrio, podem não estar na disposição de estabelecer esses contactos. Além disso, o mundo espiritual é ainda mais complexo que o nosso, e os Espíritos também têm as suas ocupações, não estando permanentemente disponíveis para responder a quem indiscriminadamente os queira contactar. Sendo os médiuns o “aparelho” para essa comunicação, temos ainda que nem todo o médium serve para todo o Espírito. A comunicação entre o mundo espiritual e o mundo material é da ordem natural das coisas. É uma lei da Natureza, e ocorre desde as épocas mais remotas. Creiam os homens ou não no mundo espiritual, sejam de que religião forem, pensem como pensarem, factos são factos. E são iguais para o príncipe e para o mendigo, para o crente e para o descrente, para o ignorante e para o estudioso. No caso da pressão mediática, isso pode perturbar o Espírito, mas se ele tiver mérito, tal não acontecerá. Qualquer comunicação só existe com consentimento espiritual superior, de modo que ninguém pode garantir que vai conseguir esta ou aquela comunicação.